Desprendido

Quis-te todo meu por um momento inacabável de segundos ralentados. Quis-te por querer-te apenas. Nunca antes quisera eu de tal maneira poder encostar meu rosto em teu ombro, olhando-te a alma adentro por teus pequenos olhos esticados, teu sorriso encabulado como de criança envergonhada por trás da saia de boa mãe. Quis calor de gérberas vermelhas, quis sossego de noite descansada. Quisera-te fazer pássaro livre que, distante, canta só, canta feliz. E, no fundo, quis só ter a braveza de outrem e tentar passo manco em cima d'água turbulenta. Quis-te tanto nessa noite pobre de alegria que, de tanto querer, cansou-me o respirar. Quero-me tua filha no presente momento, cuidada com amor incondicional. Quero-te minha força quando na aspereza de nossas dores distantemente inquietas. Quis-te hoje, quero-te amanhã. E, por querer-te tanto, deixo-te escapar de minha lembrança.


  Liza Shumskaya