In dubio libertas










Livrai-me dos insistentes destroços mudos,
dos infindáveis casulos; ocos.
Livrai-me do anseio distópico.
Livrai-me da anedonia nossa de cada dia,
da ausência de cheiro e de medo.
Livrai-me do corpo que se cala
sob o torpor da nulidade e da nudez.
Livrai-me da apatia diante do cálido caos
que me concebe a mente.
Livrai-me do gozo em vão.
Livrai-me da abnegação
fruto da descrença própria.
Livrai-me da inércia
e da vista pálida
ante afetuoso vermelho-antúrio.
Livrai-me do peito que, de tão aflito,
regozija-se na amplitude da ausência.
Livrai-me do que não controlo
e do que temo controlar.
Livrai-me do espelho,
da automutilação à paixão
que irrompe os limites da sensatez.
Livrai-me da excrescente expectativa.
Livrai-me delas,
as memórias cruas,
tão cruas
que inundam a pele
em arrepios lacrimosos.
E, por fim,
livrai-me de tudo que me livra
da loucura ávida.


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