Fissura

Beautiful cracks, Broken isn't bad

Bastou a epifânica realização da ideia de estarmos ali, pisando o mesmo chão, para que eu logo rompesse, mais uma vez, com minhas certezas mais profundas. Quando teu olhar urgente enfim tocou minha pele, novamente meu corpo se abriu em fendas que deixaram escapar a galopadas a solidez da minha razão. A tua presença me desarma as defesas e me amolece os poros em expressão de assustador encanto. Me embebedo das oscilações do teu fervor tão intrinsecamente que meu equilíbrio escorre perna abaixo junto aos murmúrios do teu riso. Anseio por repousar meu corpo ao longo do teu uma noite mais, e respirar tua nuca adormecida, sussurrar-te carinhos discretos, aninhar-me em teu peito acolhedor. Diante de tanto fascínio, o ar que respiro é pouco para oxigenar a ansiedade em que teu silêncio me coloca. Guardei teu perfume com a lembrança do pôr do sol que se derramou sobre nossas peles salgadas de suor e mar, livres. E a isso me agarro quando tua existência se faz necessária à minha: do momento em que abro os olhos embriagados pelo desejo de tocar-te pela manhã ao espreguiçar, até a hora que eles se fecham ao fim do dia, marejados e entorpecidos pela espera daquilo que não vem. Se tua presença me paralisa extasiada, tua ausência me sufoca como nada nunca antes me sufocou. Por isso digo: perdi-me. Não sei sentir tanto, não sei sentir-te, não sei. Perdi-me no novo, no que não conheço, nesse rebuliço que toma minhas veias e pulsa em uma urgência avassaladora. Tua ausência me dói fisicamente. Meu peito queima porque te quer perto e também porque não sabe como reagir à ideia de te ter verdadeiramente perto. Meu corpo vibra em desespero por saber que tem muito mais a te oferecer do que aquilo que a embriaguez estática conseguiu exprimir diante do encantamento daqueles dias. Minha garganta quer gritar-te um querer infindável, ainda que fantasioso - e não suporta mais engolir em silêncio.


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