Da Capo al Fine

E minha música está feita.
Escrita, moldada.
Canto-a leve,
suave como a brisa que eleva
o som recém orvalhado
do nascente.
Ouça!
Bela e efêmera...
Ah, se eu pudesse
ao menos saber se um dia
alguém a ouvirá.
Ou se será esquecida.
Minha música é minha
(e de mais ninguém).
Defini-lhe o compasso,
dedilhei-lhe cada nota no seu tempo,
dediquei-lhe todos os meus amanheceres,
declarei-lhe a melodia imprevisível.
E os momentos de pouca inspiração,
deixei-os perceptíveis
(aos bons ouvidos).
Minha música tem motivo,
tem razão,
tem porquê,
indagação.
Talvez a poucos agrade.
Mas quem se importa?
Minha música é irreversível.
Não mudaria sequer uma ligadura.
Não quero.
Não posso.
A cada pausa, um suspiro.
Alívio momentâneo.
Porque minha música é tensa,
ainda que doce;
é complexa, ainda que adorável.
Em staccatos alimentada.Meu único anseio:
que meu Mestre a ouça,
toque-a, cante-a.
Porque só assim poderei traçar
o último compasso,
definitivo, ralentado,
agradável, ainda que imperfeito.
Resta saber:
por que canto?
Eis o instante do poeta. 
Sim, o ontem já passou
e o daqui a pouco não existe.
E a minha música?
Está completa.